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por que avaliar?


Por Ricardo Peterson Silveira07/01/2019 09h30


Um dos maiores (e compreensíveis) receios de treinadores e atletas na hora de decidir pela realização de avaliações em seus programas de treino pode ser resumida em duas perguntas: "qual é a utilidade e o quanto isso vai interferir no meu treino?". É primordial que quem esteja realizando a avaliação saiba responder a essas duas perguntas para que tudo fique o mais claro possível para os principais beneficiados desse tipo de serviço: o atleta e o treinador. Quando avaliador, treinador e atleta não falam a mesma "língua", isso pode se tornar um grande problema e jogar por água abaixo os planos e as melhores intenções de qualquer uma das partes!

Por isso, tenha em mente que nem tudo que pode ser medido deve ser medido e que nem tudo que não pode ser "quantificado" deve deixar de ser avaliado. Por mais robusta e elaborada que seja uma avaliação, se o treinador e/ou o atleta não "comprarem a ideia", ou se qualquer uma das partes não se mostrar aberta ao diálogo e ao trabalho em conjunto, a avaliação estará fadada ao fracasso e será uma grande perda de tempo para todos: para o treinador que modificou o planejamento do treino "desnecessariamente" (vou chegar nessa parte), para o atleta que terá a sua programação alterada e não terá o retorno esperado e para o avaliador que terá desperdiçado horas de trabalho (e muitas vezes dinheiro do próprio bolso) preparando material, codificando programas, coletando e analisando dados... Simplesmente, não vai dar certo!

A avaliação precisa ter um propósito muito bem definido e é preciso que o treinador faça parte da construção desse propósito, especialmente no esporte de alto rendimento. Somente assim as perguntas destacadas acima deixam de fazer sentido, pois a resposta é óbvia: a avaliação é (ou deveria ser) parte do treino. Talvez seja uma das partes mais importantes, afinal o treinamento é uma arte baseada na ciência, e um treino sem avaliação é uma jornada sem destinação. Qualquer programa que fuja a essa regra dependerá muito da sorte para dar certo. E não parece muito razoável depositar os sonhos e, em muitos casos, dedicar uma vida à sorte, não é mesmo? Por isso, use o próprio treino como instrumento de avaliação. O treinador deve avaliar, o atleta deve avaliar e, obviamente, o avaliador deve avaliar. Todos são "engrenagens" de uma mesma locomotiva e podem/devem participar ativamente de todo o processo para chegar ao destino final.


ricardo peterson silveira

Gaúcho de Porto Alegre, Professor de Educação Física e Doutor em Ciências do Exercício Físico e do Movimento Humano pela Universidade de Verona (Itália) e pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Brasil), com formação complementar na Universidade do Porto (Portugal) e na Universidade de Calgary (Canadá).